terça-feira, 4 de novembro de 2014

TEÍSMO ABERTO - Gilton Duarte de Melo



TEÍSMO ABERTO

Gilton Duarte de Melo
O tema que estaremos abordando neste artigo, certamente, é motivo de muitas discussões em ambientes acadêmicos e, também, em conversas informais entre líderes cristãos. Gostaria de destacar que, a ideia não é levantar polêmica sobre o assunto, e sim, apenas, mostrar as diferenças entre conceitos que, equivocadamente ou a propósito de alguns autores, são expostos como “verdades”, equiparando ou igualando princípios defendidos em variadas linhas ou pensamentos teológicos. Exemplo: Teísmo Aberto x Arminianismo.
O Teísmo Aberto é uma tentativa de explicar o inexplicável (relação entre o pré- conhecimento de Deus sobre os fatos e o livre arbítrio dos homens).
Os argumentos do teísmo aberto são, essencialmente, estes:
Os seres humanos são verdadeiramente, livres; Se Deus soubesse o futuro, absolutamente, os seres humanos não poderiam ser livres; Sendo assim, Deus não sabe tudo sobre o futuro. O teísmo aberto acredita que o futuro não pode ser conhecido.
O teísmo aberto se baseia em trechos das Escrituras em que Deus aparece “mudando de ideia” ou, ainda pior, sendo “surpreendido”, parecendo adquirir conhecimento no momento dos fatos ocorridos. Uma passagem clássica para aqueles que defendem esta visão, se encontra em Gênesis 22:12, onde Deus diz a Abraão: “Não estendas a mão contra o moço, não lhes faça nada, pois agora sei que temes a Deus, visto que não me negaste teu filho, teu único filho”. Para o teísta aberto, isso mostra, claramente, que Deus aprendeu algo a respeito de Abraão – algo que não tinha conhecimento prévio. Outra passagem da Bíblia que os teístas abertos utilizam para fundamentar seus argumentos, está em I Samuel 15:11-35, onde, por duas vezes, Deus diz que “se arrependeu” de ter feito Saul rei. Com esses “argumentos”, fica a pergunta: Será que Deus pode, de fato, se arrepender de alguma ação sua que ele sabia, desde a eternidade, que aconteceria como aconteceu? Existe outra situação bastante utilizada pelos teístas abertos em suas considerações, o dilúvio em Gn 9:14 – o sinal do arco-íris dado por Deus é um lembrete a ele mesmo de que nunca mais trilhará este caminho (na visão teísta aberta).




Analisando os argumentos bíblicos
Será que essas e outras passagens deveriam ser interpretadas como são pelos teístas abertos? Será que deveríamos concluir, justificadamente, que a Bíblia indica que o conhecimento de Deus acerca do futuro é limitado e que Ele, de fato, aprende algo do que acontece somente quando pessoas livres fazem suas escolhas e praticam o que escolheram livremente?
Para responder essas perguntas, precisamos ter certeza, observando, criteriosamente, as passagens usadas em defesa do ponto de vista aberto e ver se, de fato, indicam que Deus aprende algo que não conhecia antes à medida que a história se desenrola e as pessoas fazem suas escolhas. Devemos perguntar, também, se a Bíblia realmente ensina que Deus conhece algo que os teístas abertos negam que ele possa conhecer: as livres ações e escolhas humanas futuras.
Observando cada uma das ocorrências citadas no início deste artigo, podemos fazer algumas considerações baseadas na própria Palavra.
1.    Quando olhamos para a passagem em questão, no caso de Abraão (Pois agora sei que temes a Deus), vemos que o Anjo não diz que agora Deus sabia que Abraão seria obediente à ordem de Deus ou que Abraão realmente sacrificaria o seu filho. Antes, ele diz: Pois agora sei que TEMES a Deus. Certamente, Deus tinha bons motivos para já saber que Abraão o temia, pois Ele conhece o coração de cada pessoa (I Cr 28:9 e I Sm 16:7) e, sendo assim, também conhecia toda a vida de obediência de Abraão. E isso é de extrema relevância, uma vez que Abraão é citado no Novo Testamento como um homem de fé; elogiado, inclusive, pelo apóstolo Paulo no livro de Romanos. O autor da carta aos Hebreus, também, faz uma referência a Abraão, tanto por ter deixado seu país para seguir a Deus, quanto por oferecer Isaque, crendo, inclusive, que Deus faria o seu filho retornar de entre os mortos. Particularmente, não tenho dúvidas de que Deus, por sua presciência, já sabia que este homem, conhecido por sua fé, estaria disposto e, totalmente, convicto de que Deus poderia ressuscitar o seu filho sacrificado, caso isto viesse a acontecer. Prefiro entender esta afirmação (Pois agora sei que TEMES a Deus), como uma confirmação daquilo que Deus já sabia. Cito, aqui, uma ilustração muito adequada, feita pelo Bruce A. Ware, em seu livro Teísmo Aberto, o qual compara como a ocasião em que um marido muito carinhoso e amoroso expressa novamente à esposa seu profundo amor por ela. Suponhamos que ele chegue do trabalho e surpreenda-a com planos para uma viagem de fim de semana. Nesse momento de empolgação e intimidade, ele poderia perguntar-lhe carinhosamente: “Querida, você sabe neste instante, do fundo de seu coração, que eu a amo”? Ela poderia dizer: Depois do que você fez, eu realmente sei, neste instante, o quanto você me ama. Considerando assim, seria correto dizer que somente naquele instante, e não antes – ela veio saber algo que não sabia anteriormente em relação ao amor do marido por ela? Com certeza não. Pelo contrário, a experiência presente trouxe novo testemunho e reafirmação do amor do marido, de modo que naquele momento ela soube novamente do amor dele.

Em Gênesis 18, Deus fala a Abraão a respeito da destruição de Sodoma e Gomorra. Ele diz: Porque o clamor contra Sodoma e Gomorra se multiplicou, e o seu pecado se agravou muito, descerei agora e verei se tudo o que eles têm praticado condiz com o clamor que tem chegado a mim; se não for, saberei. Nesse texto, temos algo bem interessante a ser analisado. Se considerarmos a visão Teísta Aberta, teríamos que negar a onipresença de Deus, pois Ele teve que descer do céu pra ver o que estava acontecendo nas duas cidades. Teríamos, também, que negar o conhecimento de Deus em relação ao passado, pois Ele teve que confirmar se os sodomitas praticaram tais atos terríveis. Numa outra avaliação, teríamos de negar que Deus conhece tudo sobre o presente, pelo fato de ter que descer e ver, comprovando assim, os relatos.
E agora?
Estamos diante de um problema, uma vez que todos os cristãos evangélicos e ortodoxos, e mesmo os teístas abertos, afirmam que o Deus da Bíblia é Onipresente; possui conhecimento perfeito e completo do passado e possui conhecimento prefeito do presente.

Cremos assim, mesmo porque as escrituras estão recheadas de ensinamentos sobre esses pontos.

Sendo assim, não é correta a interpretação literal - que Deus teve que descer até Sodoma a fim de saber se o que ouvira era verdade.
Prefiro entender esta passagem como uma declaração de um pai, brincando de esconde-esconde com o filho: “Vamos dar uma olhadinha naquele canto para ver se sua irmã está se escondendo por ali e, então, vamos saber”. O pai diz isso tudo, ciente, o tempo todo, de que ela está mesmo ali.

2.    E em relação ao fato de Deus ter-se arrependido por ter posto Saul como rei (I Sm 15:11-35)? Será que este arrependimento indica que Deus pensou que aconteceria uma coisa, mas depois ficou sabendo de algo que não sabia antes, já que aconteceu uma coisa diferente, em relação a desobediência de Saul?

O versículo 29 do capítulo 15 de I Samuel se encaixa, perfeitamente, nos versículos 11 e 35.

Precisamos entender que Deus nunca adquire conhecimento de novas informações e nunca é surpreendido pelo que acontece. Desta forma, Ele nunca pode se arrepender (em sentido estrito) por, supostamente, ter chegado ao seu conhecimento que aquilo que antecipara não aconteceu. Por outro lado, à medida que os fatos que aconteceriam se desenrolam de acordo com o que ele sabia de antemão, Deus ainda assim pode ficar profundamente consternado e angustiado com o pecado que, em determinado momento, testemunha e, desta maneira, pode “arrepender-se” (em sentido amplo, v 11 e 35) de essas coisas terem acontecido.
Nessa mesma passagem o autor quer que conheçamos duas coisas sobre Deus. A primeira coisa que devemos saber é que, de fato, assim como Deus nunca pode mentir, seu conhecimento também é determinado e por isso ele nunca pode vir à saber de algo que o levará a criticar, questionar ou arrepender-se do que fez. Ele é Deus, não homem, e, como Deus, está acima de qualquer “arrependimento” em sentido estrito.
A segunda coisa é que, simplesmente, por Deus nunca questionar o que está acontecendo (uma vez que já sabia tudo isso de antemão), não devemos concluir que Ele não se importa com o pecado que se revela. Ele se importa, sim, e ficou profundamente consternado com o que Saul fez à medida que testemunhava o desdobramento do que anteriormente sabia que aconteceria.

Presciência divina, completa e definitiva.
Poderia, aqui, citar várias passagens das Escrituras Sagradas, onde encontramos, claramente, a ação da presciência de Deus, de uma forma completa e definitiva. Uma dessas, está em Êxodo 3:19,20, onde, depois de aparecer a Moisés na sarça ardente, mas antes das dez pragas e da libertação de Israel através do Mar Vermelho, o Senhor dirigiu-se a Moisés e disse: “Sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir, a não ser pelo poder de uma forte mão. Por isso, estenderei a mão e ferirei o Egito com todos os prodígios que farei no meio dele. Depois disso, ele vos deixará ir”. O texto mostra, de uma maneira bem natural e óbvia, que Deus já sabia que o rei do Egito não iria permitir que os filhos de Israel partissem, salvo sob coerção, e que Deus também sabia que, depois de trazer as pragas sobre o Egito, o rei iria deixá-los partir. Ou seja, esta é a declaração do conhecimento divino sobre as decisões futuras do faraó, primeiramente resistindo a deixá-los ir e, em seguida, sobcoerção, deixando-os ir.
Considerando tudo isso, só podemos chegar a uma conclusão:
O Teísmo Aberto não tem, absolutamente, nada a ver com o arminianismo. Fica muito claro que, enquanto o primeiro declara que Deus não conhece o futuro, apenas, o conhece à medida que os fatos vão ocorrendo (isto pra mim é presente), o arminianismo diz que Deus conhece, sim, definitivamente, todas as coisas em todos os tempos (presente, passado e futuro). O arminianismo defende que o homem, por ter sido criado à imagem e semelhança de Deus, pode tomar decisões e fazer suas escolhas. É certo que todos nós cremos na soberania de Deus e que Ele não está limitado aos nossos desejos e, quando Ele quer exercer a Sua soberania, Ele assim o faz.
Muitas pessoas tentam deturpar a visão arminiana, comparando-a com “posicionamentos teológicos”, os quais, não estão alinhados com a Palavra. Podemos afirmar que o Teísmo Aberto é um grande equívoco e um dos maiores e representativos erros de interpretação dos últimos dias.
Creio e continuarei crendo no único Deus; Salvador; Criador e, através da Sua onisciência/presciência, conhece o futuro, o resultado de todas as coisas, inclusive, as nossas escolhas. E isto é assim, porque, simplesmente, Ele é DEUS.







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